Terceirização que deu certo
Por Vera Fiori - 07/11/2011
Quando o varejista não tem know-how para operar determinados segmentos, como farmácia, rotisseria, açougue, hortifrútis e padaria, a melhor estratégia é se associar a quem entende do assunto, somando competências. Foi o que a Cooperouro fez com sucesso.
Quando resolveu terceirizar alguns setores de sua loja, há 10 anos, a Cooperouro, que atua na cidade de Ouro Preto, não imaginava que alcançaria resultados tão bons. As áreas de perfumaria, hortifrútis e padaria, nas mãos dos parceiros DEC Minas, Benassi e Nutripão, não exigem esforços da empresa nem impõem custos, e garantem à cooperativa 10% a 20% do valor bruto comercializado nelas. São setores bem administrados, cujas vendas dobraram desde a implantação, e que contribuem para o desenvolvimento da unidade. Neste ano, a cooperativa deve registrar crescimento real de 10%, somando R$ 39 milhões de faturamento. A terceirização também 'libera' os gestores para outras demandas e novos investimentos. Em fevereiro de 2012, a cooperativa vai inaugurar duas unidades, uma em Ouro Preto e outra em Mariana, nas quais o modelo será reproduzido. "Não se trata de uma simples terceirização. Na verdade, implantamos o conceito loja dentro da loja, que gera boas margens para os dois lados", explica Joaquim José de Oliveira Silva, diretor-presidente da Cooperouro.
Inaugurada em julho de 1980, a Cooperouro (antiga Cooperalcan – Cooperativa de Consumo dos Empregados da Alcan Brasil e Subsidiárias) surgiu a partir do esforço de trabalhadores da Alcan para solucionar dificuldades no abastecimento de gêneros básicos de consumo. Segundo Silva, de lá para cá a cooperativa passou dos 28 sócios fundadores para mais de 12 mil cooperados, ultrapassando os limites de Ouro Preto e gerando benefícios para toda a região dos Inconfidentes. "Hoje, aos 31 anos, a Cooperativa de Consumo dos Moradores da Região dos Inconfidentes é referência de preços, segurança alimentar, transparência fiscal, desenvolvimento sustentável e responsabilidade social", diz o presidente.
Com as três parcerias, a empresa ganhou novas competências em produtos, exposição e mão de obra especializada. A cooperativa entra com espaço, mobiliário e o público consumidor, enquanto as empresas cuidam de toda a gestão da seção. "Com apenas uma loja, não tínhamos escala para operar bem a área de perfumaria, nem conhecimento e logística para operar FLV e tampouco know-how para desenvolver padaria e confeitaria. Em contrapartida, os parceiros não precisavam investir em estruturas físicas, ou conquistar público", lembra Oliveira. Ele também esclarece que os riscos são compartilhados. Enquanto as empresas se responsabilizam pelas perdas, a Cooperouro responde pela inadimplência.
COMO FUNCIONA O MODELO
A cooperativa optou por empresas com competência e idoneidade reconhecidas, não exigiu exclusividade no atendimento e acertou contratos por prazo indeterminado, após cumprimento de um tempo mínimo, para justificar os investimentos do parceiro.
A política de preços é sugerida pela Cooperouro, mas o parceiro fica totalmente livre para definir sua estratégia de precificação. "Não alinhamos as margens com o fornecedor, porém há uma interferência quando se perde competitividade. Mas essa interferência não é contratual e, sim consensual", diz Silva. No contrato, estabeleceram-se regras para balizar preços em relação ao mercado local e realizar promoções.
A gestão do fornecedor é controlada pelo supermercado e pautada nas pesquisas de opinião. Já o canal de comunicação com o consumidor segue o mesmo padrão dos demais setores. "As reclamações não são contra o parceiro, mas contra a cooperativa", diz Oliveira.
Nesses 10 anos, a Cooperouro não tem do que reclamar. Ao contrário, além de estender o modelo para lojas que serão inauguradas, está atrás de novos acordos. No momento, não descarta segmentos importantes, como o de bebidas e açougue. Tudo com olhos em parcerias longas e de sucesso.
ENTREGANDO O OURO
Segundo o consultor Daniel Zanco, sócio-diretor da Universo Varejo Consultoria, se o supermercadista não consegue operar com eficiência um setor, o melhor é aderir a um parceiro, como fez a Cooperouro. Mas ele lembra que alguns cuidados devem ser tomados e que o supermercado precisa avaliar bem os riscos e as vantagens. Veja as dicas do especialista:
Cuidados • Selecionar parceiro comprovadamente capaz de oferecer um serviço melhor • Definir metas e métricas de acompanhamento • Estabelecer políticas de auditoria, acompanhamento e controle • Rever periodicamente o modelo da parceria • Discutir alternativas de evolução no padrão dos serviços |
Vantagens • Melhora o desempenho da área terceirizada • Possibilita que o varejista foque mais as áreas-chaves do negócio • Diminui os riscos de insucesso • Reduz perdas • Melhora níveis de serviço e atendimento • Promove expansão com menor investimento • Reduz folha de pagamento |
Riscos • Dependência do parceiro • Eventual falta de comprometimento dos funcionários terceirizados com os assuntos da loja • Necessidade de adequar os terceirizados aos padrões da rede • Dificuldade em gerenciar os parceiros • Alto turnover de funcionários • Não participação na seleção de mão de obra do parceiro • Ingerências administrativas do parceiro (não remunerar funcionários, comprar produtos de baixa qualidade) |
Matéria da edição: AGOSTO: Top Five
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