29 de maio de 2012


Atacarejos. Os mais produtivos

Por Fernando Salles - 19/04/2012
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Cada metro quadrado de uma loja cash & carry rende R$ 22 mil em vendas, bem mais do que em qualquer outro formato. Soma-se a isso o tíquete alto e os custos e preços baixos e fica mais claro por que os hiper continuam perdendo mercado. Só os super concorrem em boas condições
O formato de menor custo do setor é também campeão em produtividade. No ano passado as lojas cash & carry, conhecidas como “atacarejos”, obtiveram faturamento médio de R$ 22 mil por m2. O valor é 28,3% superior ao dos supermercados e 18,6% acima do resultado dos hiper, segundo o 41º Ranking de Supermercados, que pela primeira vez audita os resultados do formato. “O atacarejo vende para o consumidor final, mas também atinge os transformadores e os pequenos varejistas. Isso gera um faturamento por metro quadrado muito maior”, analisa Ari Kertesz, sócio da consultoria McKinsey&Company.
PRODUTIVIDADE
Atacarejo superou os outros formatos
 28,3% é em quanto as vendas/m² do atacarejo superam as dos supermercados
 18,6% diferença das vendas/m² do atacarejo em relação aos hipermercados
-6,6% é quanto o faturamento dos hipermercados caiu em termos reais
FATURAMENTO/M²
(em R$/2011)
Atacarejo » 22.001
Hipermercado » 18.549
Supermercado » 17.147
Fonte: Ranking de Supermercados SM

As pessoas jurídicas, não atendidas pelos super e hipermercados, formam um grupo tão representativo que forçou uma mudança na gestão do Assaí, marca de atacarejo do Grupo Pão de Açúcar. Para focar no atendimento a empresas, a bandeira excluiu setores como padaria e açougue, que interessam mais ao consumidor final. Além disso, reforçou o sortimento de marcas conhecidas e enxugou o mix de marcas próprias de 500 itens para apenas 50, após pesquisa com comerciantes apontar preferência por marcas líderes. Graças a essas mudanças, o formato foi o que mais cresceu no GPA. A alta foi de 23,6%, já descontada a inflação.

Comerciante é o alvo do assaí
A rede atacarejo do Grupo Pão de Açúcar privilegia as vendas para transformadores e comerciantes. Afinal, eles garantem tíquete médio de R$ 120, superior aos R$ 80 alcançados nos hipermercados. É com maior venda por m² que o atacarejo apresenta melhor resultado, mesmo vendendo barato e tendo margem menor

Hugo Bethlem, vice-presidente do GPA, explica que privilegiar o consumidor faz baixar venda por m2, o que eleva os custos operacionais. “Esse formato tem de ser rentável como o super e o hiper, mesmo vendendo mais barato”, pondera . “O resultado por m², portanto, precisa ser maior, para aumentar o retorno do capital empregado, uma vez que a margem de lucro é menor”, resume.
Tornar o formato atraente para a pessoa jurídica é uma preocupação que todos devem ter, comenta Ari Kertesz, da McKinsey. “O empresário deve entender que está entrando em um formato com novas regras e novos players”, ressalta. “Não basta vender para o consumidor, é preciso criar capacidade de atacado, buscando o cliente fora da loja”, afirma, citando como exemplo o Atacadão – pertencente ao Carrefour –, que conta com ampla equipe de vendedores. Na sua opinião, se não houver um esforço adicional, uma loja de atacarejo pode ter o sucesso interrompido, caso um concorrente forte apareça na região.

O consumidor, porém, não deve ser desprezado. Segundo analistas, o atacarejo é hoje o canal com melhor percepção de preço entre os brasileiros. “Para as pessoas que se preocupam em economizar na compra, uma loja do formato perto de casa torna-se o destino natural”, analisa o sócio da McKinsey, destacando que esse comportamento ocorre, inclusive, nas classes A e B.

Consumidor não garante o melhor resultado
Mas é ele hoje o responsável pela maior parte das compras em um atacarejo e não pode ser desprezado. Segundo pesquisa Nielsen, 1,8 milhão de lares aderiram no ano passado ao formato, seduzidos pelos preços baixos. E não são apenas os clientes das classes CDE, mas também os de alta renda.

Pesquisa da Nielsen confirma. Em 2011, os atacarejos atingiram 1,8 milhão de novos lares. E a maior parte das vendas é destinada ao cliente final. A categoria que mais se destaca é a de higiene e beleza, com 73% de participação da pessoa física. Mas todas as outras são alvo maior do interesse do consumidor do que de transformadores. Isso explica o baixo desempenho dos hipermercados nos últimos anos, incluindo 2011.

Futuro dos hiper
Sustentado durante décadas pela combinação de preço baixo e volume de vendas, hoje vantagens do atacarejo, os hiper perdem espaço por mais um ano. É cedo, contudo, para decretar seu fim. O formato deverá mudar de posicionamento. E ainda existem regiões no país em que ele faz sentido. Veja o que pensa Pão de Açúcar, na matéria Gigantes

Os hiper sofrem cada vez mais com o avanço dos atacarejos. Afinal, perderam a imagem de preço baixo e viram a fuga do cliente interessado em compras volumosas. “O formato se baseava em preço baixo. Hoje, se mantiver esse foco perderá para o atacarejo”, diz Kertesz, que não vê boas perspectivas futuras para o formato. Os dados do Ranking confirmam a análise: em 2011, os hiper perderam 4% em produtividade e 6,6% em faturamento.

FATURAMENTO EM 2011 POR TIPO DE LOJA
(em bilhões R$)
Atacarejo » 8,8*
Hipermercado » 50,5
Supermercado » 167,8
Fonte: Ranking de Supermercados SM
* Faturamento reflete apenas lojas cobertas pelo banco de dado de SM

Quem está em melhor situação são os supermercados. Representam 73,9% do faturamento do setor e cresceram 3% em comparação com 2010. “No Brasil, há supermercado em todos os lugares e o formato ocupou o espaço que, em muitos países, é da loja de conveniência”, analisa Ari Kertesz. O sócio da McKinsey acrescenta que o aumento da frequência de compras favorece muito esse formato focado em alimentos. Mesmo assim, ele lembra que os supermercados crescem alinhados com a média do mercado, ao contrário do atacarejo – e também das farmácias e padarias –, cujo avanço é mais expressivo.

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