4 de março de 2012


Centrais viram empresas

Por Viviane Sousa - 20/02/2012

Com uma gestão mais profissional, as centrais de compras conseguem melhorar a operação dos associados e até mesmo abrir lojas próprias
Obter descontos de fornecedores não é mais o único papel das centrais de compras. Há algum tempo, elas vêm ampliando o leque de benefícios destinados aos seus associados. Hoje, já oferecem softwares integrados, que facilitam a prevenção de perdas e o gerenciamento por categorias. Também negociam serviços, como de assistência médica para funcionários. Algumas contam até com estrutura para importação de mercadorias e centro de distribuição. Com esse novo perfil, profissionalizam a própria gestão, proporcionam maior eficiência à operação de seus associados e garantem expansão sustentável ao negócio. Ou seja, estão virando verdadeiras empresas.
E há centrais indo mais longe. Caso da Mix Ideal, na Bahia, que decidiu abrir lojas próprias para acelerar seu crescimento. Entre 2009 e 2010, as duas primeiras unidades foram inauguradas. Juntas, já têm uma boa representatividade no faturamento geral do grupo. O resultado surpreendeu tanto, que até 2014 mais duas serão abertas.
João Cláudio Andrade, diretor comercial da Mix Ideal, explica que esse passo só foi possível graças aos benefícios que a central passou a oferecer aos antigos associados. "Percebemos que suas lojas, seis no total, apresentavam deficiências operacionais que as impediam de evoluir", conta.
Mas, em 2006, a rede Hiper Ideal, com oito lojas também na Bahia, se associou ao grupo e decidiu compartilhar com os antigos associados suas ferramentas de gestão integrada e até mesmo seu centro de distribuição. "Foi assim que conseguimos ampliar a área de venda das lojas e implantar softwares específicos para combate à ruptura, prevenção de perdas e controle de estoque. Atualmente, o índice de falta de mercadorias nas gôndolas é de 3,8% dos itens. Antes era de quase 8%", revela Andrade.
Desde então, a Mix Ideal não parou de adotar medidas para melhorar a estrutura de seus associados, o que fez seu faturamento saltar de R$ 120 milhões em 2006 para R$ 315 milhões em 2010. No ano passado, por exemplo, foi iniciado o gerenciamento por categorias em parceria com a indústria. Um dos resultados foi o aumento de 30% nas vendas totais de bebida de soja. "O diagnóstico apontou que as lojas precisavam ampliar a exposição do produto nas gôndolas", diz o diretor comercial.
A central também conta com um setor para compra de importados. Isso permitiu uma internacionalização do mix e aumento do tíquete médio das unidades em cerca de 12%. O próximo passo será unificar as seis lojas que a originaram, em 1996. Hoje, por exemplo, todas já atuam com a bandeira Rede Mix, mas ainda têm administração própria "Continuaremos como central de compras, porque vamos manter a parceria com o Hiper Ideal", destaca Andrade.
Para garantir resultados positivos com as lojas próprias, a Mix Ideal tomou alguns cuidados. Primeiro estabeleceu a participação societária de todos os antigos associados. Depois, definiu o papel deles na direção das novas lojas. Cada um ficou responsável por um departamento. Também estabeleceu que os antigos sócios não iriam mais abrir lojas individuais. Cláudia Bittencourt, diretorageral do Grupo Bittencourt, consultoria em redes de negócios, explica que essas medidas evitam "que muitas cabeças opinantes freiem o crescimento da nova operação".
MIX IDEAL
Bahia
Desde: 1996
Faturamento 2006: R$ 120 milhões
Faturamento 2010: R$ 315 milhões
Bandeiras: Rede Mix e Hiper Ideal
Lojas próprias 2011: 2
Lojas totais 2006: 12
Lojas totais 2010: 16

A Super Rede, do Ceará, é outra central que se destaca no mercado graças à sua profissionalização. Desde 2005, quando as primeiras medidas foram tomadas, o faturamento total de seus associados mais que dobrou. Hoje é superior a R$ 1,3 bilhão. O número de lojas também cresceu. Em 2010, eram 50. No ano seguinte, mais três foram inauguradas. Mas nenhuma pertence à central.
Segundo Paulo Ângelo Cardillo, superintendente da Super Rede, a abertura de filiais próprias descaracterizaria o papel do grupo. "Queremos focar o crescimento de nossos associados. Já temos até uma meta para expansão de lojas em 2012. Ao todo, seis unidades serão inauguradas", revela. Para Cardillo, cada rede precisa continuar com seu gestor para garantir melhor administração dos pontos de venda.
Na lista de benefícios que a central oferece aos associados estão bolsas de estudo para funcionários, obtidas por meio de parceria com uma faculdade da região, além de formação técnica das equipes. O grupo também conta com várias pequenas centrais, como a de marketing comercial, cuja função é cuidar de toda ação mercadológica das redes associadas. Há outra para compra de importados e uma financeira, responsável pela implantação do cartão private label da Super Rede nas lojas.
Todas as negociações de serviços jurídicos, de assistência médica, telefonia, energia elétrica, coleta de lixo também são feitas de forma conjunta pela central. "Assim conseguimos poder de barganha para garantir descontos polpudos, não só em mercadorias", destaca Cardillo. Com essas medidas, a Super Rede espera crescer em vendas acima de 7% este ano.
Fábio Silvestre, líder de varejo da Accenture para América Latina, acredita que o futuro das centrais está no movimento de profissionalização. "Se continuarem apenas garantindo poder de barganha, não conseguirão que seus associados tenham força para permanecer de pé nesse setor competitivo que é o autosserviço".
SUPER REDE
Ceará
Desde: 2001/2002 
Faturamento 2005: R$ 450 milhões
Faturamento 2010: R$ 1,3 bilhão
Bandeiras: Super do Povo, Pinheiro Supermercados, Super Polar, 
Compre Certo, Frangolandia e Super Lagoa
Lojas próprias 2011: 0
Lojas totais 2001/2002: 27
Lojas totais 2010: 50

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