7 de agosto de 2012


Eu S.A.

Por Adriana Silvestrini - 19/07/2012
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Os jovens são profissionais seguros de si e mais voltados para o sucesso de sua carreira do que as gerações anteriores. Esse comportamento pode ser aproveitado em prol da empresa. Basta saber orientar e oferecer o que eles buscam
O gestor reúne a equipe e comunica a implementação de um novo projeto. Um jovem de 21 anos levanta a mão e questiona com segurança: “Por que eu não fui consultado durante o planejamento? Eu tinha boas ideias”. Surpreendido com a atitude do rapaz, o gestor desconversa na hora, mas, após a reunião, volta a pensar no comportamento inusitado do funcionário. A história é verdadeira e, acredite, poderia ter acontecido na sua empresa. Situações como essa são cada vez mais comuns quando se trata de jovens profissionais. Seguros de si e voltados principalmente para sua carreira, eles demonstram rapidamente a que vieram. Questionam, fazem várias tarefas ao mesmo tempo, mas querem ser valorizados por isso. Como dizem os especialistas, os jovens deste século nasceram com outro ‘chip’.
Focados no sucesso, tornam-se facilmente descomprometidos quando enfrentam dificuldade de impulsionar a carreira e diante da pressão das empresas. É o que indica estudo global realizado pela GfK com mais de 30 mil profissionais em 29 países. Segundo o estudo, jovens brasileiros de 18 a 29 anos representam apenas 20% dos profissionais mais engajados com as empresas em que atuam. Entre funcionários com 50 a 59 anos, esse índice é quase o dobro (37%).
OS BRASILEIROS MAIS ENGAJADOS
Os mais velhos ainda vestem mais a camisa da empresa
20% 18 a 29 anos
23%  30 a 39 anos
20% 40 a 49 anos
37% 50 a 59 anos
Fonte: GfK
Para a professora Adriana Gomes, do Núcleo de Desenvolvimento de Carreiras da ESPM, as pessoas só se comprometem com o que tem valor para elas. E é assim que o jovem se sente. “Hoje, ele se coloca na sociedade de uma maneira diferente. Tem muito acesso à comunicação, fala e escreve o que pensa”, diz. Esse comportamento pode assustar empresas acostumadas às gerações anteriores, mas é consequência de um novo modo de vida. Cíntia Bortotto, consultora em RH, lembra que os pais desses jovens passaram por mudanças importantes na vida pessoal e profissional. “Como suas mães entraram de vez no mercado de trabalho, eles foram criados em creches e nas escolinhas. Portanto, cresceram num contexto social diferente. Acreditam realmente no seu potencial, não têm medo de arriscar, são imediatistas e competitivos”, afirma.
Por essa razão, completa a professora Adriana, da ESPM, as empresas precisam aprender a lidar com o comportamento peculiar dos jovens. “Eles foram criados com tudo à mão e carecem de autoconhecimento, maturidade, de saber lidar com frustrações e pressões”, explica.
 RESULTADOS NO BRASIL
O que mais preocupa os profissionais em cada faixa etária
 Equilíbrio
entre a vida
profissional
e pessoal
Nível
de
estresse
Segurança
no
trabalho
Pressão
em longas
jornadas
Ferramentas
para realizar
o trabalho
Saúde
pessoal
18 a 29
anos
59%53%50%42%53%46%
30 a 39
anos
59%51%51%38%51%47%
40 a 49
anos
56%48%52%35%49%47%
 50 a 59
anos
 54% 40% 56%31%52%51%
Fonte: GfK

É preciso entender quais as ambições desses novos profissionais. Embora tenham fama de rebeldes, os jovens gostam de ouvir os mais experientes. E é essa contribuição que os gestores podem dar, mostrando limites e explicando os porquês. “O fato de colocar limites não significa que o jovem vai embora, desde que haja comunicação clara. Como em toda relação, deve-se evitar o desgaste”, comenta a consultora Cíntia.
Contratar jovens é um caminho sem volta. Por isso, a empresa deve procurar entender qualidades e defeitos desses profissionais e fazer com que entendam a cultura da organização. Para identificar o que é positivo para os dois lados, nada melhor do que o bom e velho diálogo.
Medidas assim ajudam a evitar o susto que o líder do início desta reportagem teve ao ser questionado pelo jovem membro de sua equipe. Situação que o Walmart trabalha para evitar. A empresa aposta em seus colaboradores das gerações Y (nascidos entre 1978 e 1995) e Z (nascidos após 1995). “Quarenta por cento do quadro de funcionários no País é formado por jovens. Eles são comprometidos e fazem carreira na empresa”, garante Paulo Mindlin, 35 anos, diretor do Instituto Walmart. Ele próprio é exemplo disso, pois foi contratado pelo Walmart aos 23 anos.
POR QUE TRABALHAR COM JOVENS 
Novas ideias e soluções diferentes para problemas antigos estão entre os benefícios
Eles estão sempre questionando os processos, o que permite melhorias
Têm facilidades com as novas tecnologias, permitindo identificar a melhor forma de a empresa aproveitá-las
Antenados com as novidades, fazem com que a companhia se modernize sempre
São multitarefeiros e fiéis aos seus projetos
São ágeis e possuem entendimento global
Apesar da pouca idade, quando acreditam no projeto, se comprometem de verdade
Fonte: consultorias

Para cativar os jovens e reforçar o interesse deles pelo setor, a empresa criou, há dois anos, a Escola Social do Varejo, junto do Instituto Aliança para o Adolescente. O projeto foi concebido para formar jovens menos favorecidos e pela necessidade de mão de obra qualificada. “Juntou a fome com a vontade de comer”, brinca Mindlin.
Os resultados são satisfatórios. Mais de 1.700 jovens, com 17 a 24 anos receberam em 2011 a certificação do curso da Escola Social do Varejo. Foram 500 horas de aulas voltadas ao conhecimento básico sobre o funcionamento de um supermercado. Os alunos formados estão sendo inseridos no mercado. Em 2011, 83% dos aprovados conseguiram emprego no setor de varejo, sendo que 45% foram absorvidos pelo Walmart. “Pretendemos formar 1.850 profissionais neste ano. E, em cinco anos, nossa meta é alcançar 10 mil alunos”, completa o diretor. A iniciativa já beneficiou jovens de seis Estados.
Segundo o executivo, os jovens conciliam o trabalho com as aulas. “O funcionário sempre prefere um emprego no qual tenha condições de se dedicar a cursos de aprimoramento. Temos essa e outras percepções do que se passa na vida do jovem, por isso a parceria dá certo”, finaliza, dando a receita de como extrair o melhor dos novos profissionais.

 O QUE FAZER
Eles querem oportunidades para crescer na empresa. Vale apresentar um plano de carreira
Para estimulá-los, ofereça incentivos ao desenvolvimento, como treinamento em liderança e  formação superior
Realize feedback constante pois eles desejam saber sobre seu desempenho. Uma vez por mês, convide-os para um batepapo
Reveja as regras de proibição de uso de celulares ou redes sociais, pois os jovens não abrem mão de gerenciar simultaneamente a vida pessoal e a profissional
Já que precisam se sentir “parte do time”, implante um modo de liderança por coletividade e  inclusão. Para o jovem, a figura do líder não está centrada numa pessoa só, ela pode ser exercida por diferentes colegas, inclusive ele
Cheios de energia e força de vontade, eles detestam rotina. Uma dica é mudar as atividades dos jovens de tempos em tempos
Esta geração tem dificuldade em lidar com frustração, em ouvir “nãos”. Cabe ao bom gestor mostrar os limites e os porquês das situações. O que não pode é deixar o jovem com dúvidas, sem explicações. A comunicação tem de ser clara e constante
Periodicamente, a empresa precisa rever algumas normas e regras para tirar proveito da mão de obra do jovem. Assim como o funcionário tem de rever certas atitudes para tentar se adequar à cultura da companhia
Fonte: consultorias

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